Minas Gerais já havia sido marcada pela presença dos Capuchinhos no início do século XIX graças à ação dos Missionários Capuchinhos Ambulantes. Grandes homens que não mediam esforços na dedicação da missão e na promoção humana o social do povo que encontravam em suas caminhadas. Desde as pregações e benfeitorias nas cidades por onde passavam aos aldeamentos indígenas, era marcada a ação de tão notáveis missionários filhos de São Francisco. Figuras ilustres como Frei Eugênio Maria de Gênova, o Reverendo Padre Mestre e Missionário Apostólico; Frei Luiz de Ravena, o missionário e eremita da Serra da Piedade; os Freis Serafim de Gorízia e Ângelo de Sassoferrato missionários entre os índios e fundadores de Itambacuri, dentre outros. Dessa forma, em Minas os esforços dos missionários ambulantes já rendiam frutos, como na parábola do semeador onde a semente encontrou terra boa (cf. Mt 13).
A partir de 1936 com a missão em Minas Gerais assumida pela Província siciliana de Messina, eram lançadas bases sólidas na implantação da Ordem nesta porção do Brasil. Sendo assim, foram enviados sete frades missionários para a nova missão: Frei Teodósio de Castelbuono, Frei João Batista de Catania, Frei Clemente de Maleto, Frei Odorico de Resuttano, Frei Conrado de Troína, Frei Liberatto de Catania e Frei Leão de São Mauro. Saíram de Messina no dia 07 de setembro de 1935 e chegaram treze dias depois no Brasil. Porém ficaram hospedados com os Frades Capuchinhos de São Paulo para aprenderem a língua e os costumes da nova terra. Assim, aos 06 de fevereiro de 1936 chegaram ao destino da tão sonhada missão: a cidade de Carmo do Paranaíba na região do Alto Paranaíba.
Recebidos com alegria pelo bispo da então Diocese de Uberaba e pelo povo, deram início ao trabalho de implantação da Ordem e de cuidado do povo. Não foi, de fato, um início fácil e o árduo trabalho e a extrema dedicação mostrou ao povo a motivação evangélica da presença daqueles missionários. De Carmo do Paranaíba saíram frades para fundar outras Fraternidades como Frutal, Patos de Minas, Belo Horizonte e Uberaba. Aos poucos a presença Capuchinha se estabilizava e novas vocações foram surgindo. Era necessário um espaço para acolhê-las, inaugurou-se em Carmo do Paranaíba o Seminário Sagrado Coração de Jesus e, posteriormente em Ouro Fino, o Seminário Seráfico Santo Antônio.
Com o frutuoso trabalho a missão foi elevada a Custódia com seu governo próprio e sua estrutura, ainda com relações fortes com a Província Mãe de Messina. Dessa Província Mãe vieram, ao logo dos anos, 55 missionários para a Missão em Minas Gerais. A Custódia foi crescendo e se amadurecendo, abrindo novas Fraternidades e expandindo o seu trabalho missionário. O cuidado com as Paróquias confiadas aos frades e o testemunho de força, coragem e trabalho identificavam os Capuchinhos no meio do povo, que por sua vez recorriam sempre aos conventos buscando ajudas materiais e orientações espirituais. Eram frades do altar, dos confessionários e dos trabalhos, dando testemunho de vida e colaborando na promoção do Reino de Deus. As justas medidas desses três ambientes faziam com que os frades não se esquecessem da gênese da sua vocação capuchinha e da prescrição de São Francisco: “e sejam menores” (cf. 1 Cel15, 38).
Durantes os anos em que os Missionários italianos estiveram à frente da missão, sobre tudo nos inícios, vários frades se destacaram. Frei Teodósio de Castelbuono, o primeiro superior da missão, Frei Odorico de Ressutano, responsável pela abertura das várias casas, Frei Antônio de Gangi, com seu jeito siciliano e suas iniciativas fortes, Frei Gabriel de Frazzanó, dedicado aos cuidados dos necessitados e com fama de santidade em Frutal, Frei Davi de Bronte, suas atividades artísticas com coral, orquestra, teatro e responsável pela decoração de algumas igrejas, dentre outros. Desta forma, os frades estavam profundamente próximos ao povo e o povo dos frades.
Aos 15 de dezembro de 1980, com a presença do Ministro Geral Frei Pascoal Riwalski e do Ministro Provincial de Messina Frei Fiorenzo Fiore, a Custódia foi elevada a Província, sinal de sua maioridade e autonomia total com relação à Província de Messina, porém, os laços fraternos ainda nos unem até hoje. Assumiu como primeiro Ministro Provincial Frei Antônio Roberto Cavutto, hoje bispo da Diocese de Itapipoca no Ceará.
Somos fruto de uma história rica de acontecimentos e cheia de sinais de Deus. Desde os primeiros missionários de 1936 até o postulante mais jovem de 2018 somos animados e sustentados pela graça de Deus e pela força de Seu Espírito. Herdeiros de tal riqueza somos, ao mesmo tempo em que olhamos para nossa história no passado, desafiados pelo presente e incentivado ao futuro.
Conhecer a nossa história nos faz conscientes da nossa identidade Capuchinha Mineira que carrega em si as marcas do Evangelho, de Francisco e do nosso povo mineiro. Não será possível apagar da memória de tantas pessoas e de tantos lugares as típicas figuras dos Capuchinhos; suas “veneráveis barbas”, seu hábito marrom, seu cordão, o santo Terço que sempre seguia atado à cintura, as sandálias gastas de tanto andar, a austeridade que viviam e a capacidade de trabalhar que possuíam. Tudo isso faz parte do imaginário, eternizado pelos exemplos, dos grandes Missionários Capuchinhos nas terras das Minas Gerais. O Reino de Deus vai se construindo com um abraço, um sorriso, uma boa acolhida e o testemunho da vida. Maternamente amparados em nossas dificuldades e necessidades pela Virgem da Piedade seguimos na proclamação da Paz e na construção do Bem.
Ser Capuchinho é confiar no Senhor e colocar-se a seu serviço, é encantar-se pela simplicidade cotidiana, é estar apaixonado pelo Reino de Deus e ser parte importante dele. Ser Capuchinho é viver o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo e assim ser missionário. Ser Capuchinho Mineiro é estar apaixonado pela rica cultura das Minas e pela força das Gerais.
Por Frei Glaicon Givan Rosa, OFMCap